O angolano Ondjaki, o único autor africano entre os 10 finalistas do Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa 2008, afirma já haver um diálogo cultural da produção literária entre Brasil e os PALOP.
No entanto, perdura um desequilíbrio: "O Brasil é um país exportador de cultura. Nos anos 70 houve uma grande influência da literatura brasileira na que estava a ser feita, sobretudo, em Angola e Moçambique. O inverso é mais difícil, ainda não há uma dimensão cultural que justifique Angola influenciar o Brasil".
O jovem autor angolano, que está a passar uma temporada de um ano no Rio de Janeiro para levar a cabo um projecto literário, disse à Agência Lusa que a partir de 2003 "este diálogo cultural" foi mais intensificado com os países africanos.
"É preciso não esquecer o trabalho de professores de literatura africana desde meados dos anos 90, muito antes da movimentação política, já havia um espaço de abertura e que agora está a ser de facto reconhecido", avançou Ondjaki ao destacar que esta atitude política é o "culminar de um grande acumular de esforços de entidades e instituições".
Contudo, o mercado editorial ainda é limitado, segundo o autor. "Vendemos mais livros em Portugal e no Brasil do que nos nossos próprios países por razões óbvias. As pessoas têm pouco poder de compra, pouco hábito de leitura e o livro ainda é um objecto muito caro".
Como o único escritor proveniente de um país africano na lista dos 10 finalistas do Prémio de Literatura Portuguesa a ser entregue no próximo 29 de Outubro, em São Paulo, a sua obra de contos "Os da minha rua" está a concorrer com o romance "Eu hei-de amar uma pedra", do português António Lobo Antunes, além de obras de oito autores brasileiros.
Ondjaki diz ter estado surpreso ao receber a notícia de que era um finalista entre as 400 obras inicialmente inscritas.
"Sinceramente não esperava, por ser um livro de contos. Havia outros candidatos, estava o Agualusa e o Mia Couto. Vou com a atitude de considerar esta nomeação o meu prémio. Claro que se houver outro prémio ficarei satisfeito".
Ndalu de Almeida, nascido em Luanda, mais conhecido pelo pseudónimo Ondjaki, é poeta, escritor, artista plástico, cineasta e publica há oito anos. Faz parte desta nova geração de escritores dos países africanos de língua portuguesa.
Já publicou nove obras, traduzidas para diversas línguas como o francês, inglês, alemão, italiano e espanhol.
Em 2000, Ondjaki recebeu uma menção honrosa no prémio António Jacinto (Angola) pelo livro de poesia "Actu Sanguíneu". Cinco anos depois, o seu livro de contos "E se amanhã o medo" obteve os prémios Sagrada Esperança (Angola) e António Paulouro (Portugal).
No ano passado, foi laureado pelo Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco pelo seu livro "Os da Minha Rua", o mesmo que está a concorrer como finalista para o Portugal Telecom.